
“Ivi em Cena” está de volta, depois de um hiato necessário para atuar em outra frente – campanha eleitoral 2020 e toda a responsabilidade que ela traz. Se puder dar uma dica fora do âmbito do entretenimento, é a seguinte: vote em candidato com projeto, alinhado com os anseios tanto dos municípios quanto dos menos favorecidos. A pandemia escancarou ainda mais a desigualdade social do Brasil. Podemos colaborar para minimizar isso nestas eleições municipais.
Dito isso, voltamos à programação normal. Nestas quatro semanas, consegui assistir a muita coisa boa para escrever sobre.
Tinha planejado falar sobre uma obra incrível da HBO, porém, a temática que envolve a série título da coluna de hoje pesou mais: feminicídio e assassinatos em série.
Baseada no livro homônimo da escritora e criminóloga Ilana Casoy, “Bom Dia, Verônica” traz Tainá Muller no papel título, sob a direção de José Henrique Fonseca e roteiro da própria Ilana e de Raphael Montes (especialista em analisar perfis psicológicos de criminosos).
Em oito episódios com duração de 40 minutos cada, todos gravados em São Paulo, a série conta com alguns clichês de tramas policiais, mas mesmo assim, é boa o suficiente para prender a atenção do expectador, ao mesmo tempo que retrata as idiossincrasias e preconceitos destilados diariamente na rotina de uma delegacia de homicídios.
Verônica é uma escrivã de polícia nesta delegacia, mãe de dois filhos, casada, e com uma tragédia pessoal em seu passado. Aguerrida, ética, feminista e inconformada com o “sistema”, se vê às voltas com dois casos envolvendo violência contra mulher: o do golpista que age em um site de encontros e que aplica o Boa noite Cinderela em vítimas mulheres e depois as furta e as chantageia com fotos, e o da esposa de um policial militar, Brandão (vivido por um Du Moscovis inspirado), Janete, interpretada por Camila Morgado.
Pausa para a interpretação de Morgado. Ela é vítima deste marido monstruoso e traz no olhar a humilhação, o desespero, a apatia e a passividade de quem convive com um abusador por tempo suficiente. Há cenas nas quais a personagem sonha que é feliz ao lado do esposo e a transformação das expressões do rosto da atriz é algo sensacional. Morgado merece todos os louros por interpretar essa mulher tão machucada que se torna cúmplice das atrocidades que seu algoz comete contra outras mulheres apenas pela paralisia e temor que este relacionamento lhe trouxe.
Na delegacia, podemos assistir a rompantes de machismo, proferidos – pois olhe lá -, por uma delegada, ao acolher o depoimento de uma das vítimas do golpista do site de encontros. É uma espécie de segunda agressão sofrida pela vítima.
Também assistimos a cenas de corrupção, conluio e de abuso de autoridade. E é justamente contra tudo isso que Verônica busca lutar. A trama caminha bem, é envolvente, porém se perde um pouco no argumento que envolve o assassino em série da história. A conspiração em torno deste enredo é meio confusa demais, mas isso não traz demérito ao conjunto da obra.
“Bom Dia, Verônica” é instigante, inteligente, bem dirigida e exige uma segunda temporada… Que pelo último episódio tem tudo para ser ainda melhor que a primeira.
Recomendo…