
Findaram-se as férias desta que vos escreve, a mestre em Administração que preferiria ser Jedi. Foram dias de dolce far niente, encontros memoráveis, produção de melanina e síntese de Vitamina D em altas doses. Além disso, muitos filmes, séries, Biarticulando em processo de ficar vitaminado, leitura e releitura de livros. No campo dos revivals, reli Memória de Minhas Putas Tristes, do sensacional Gabriel García Márquez. Já nos autores que levarei para a vida acadêmica, que começa em breve, devorei o “Dilema da Inovação – Quando as novas tecnologias levam empresas ao fracasso”, de Clayton M. Christensen. Apesar de escrito originalmente em 1997, o livro é necessário e atualíssimo.
No que tange o Biarticulando, algumas mudanças ocorrerão, conforme conversa com os chegados responsáveis. Porém, nada de preocupante. Apenas ampliaremos o alcance para o estado. (Ninguém por aqui se tornou celibatário nem fez voto de pobreza.) A linha editorial permanecerá a mesma… Progressista, democrática, pluralista, baseada na ciência e preceitos iluministas, com o intuito de combater a ignorância, a intolerância e o negacionismo, tão vigentes no Brasil e no Paraná de hoje, infelizmente.
Na seara do streaming, consumi bastante coisa interessante, das mais variadas fontes: Prime, HBO Go, Netflix e o badalado Disney Plus (vejam Soul!).
E mesmo com tanta opção boa, a série do verão, pelo menos quando aferida pelas menções nas redes, foi Bridgerton, do Netflix. Para o bem e para o mal…
Afinal, há quem a chame de Malhação da realeza… há quem critique a escalação de um elenco com vários atores negros interpretando membros da nobreza e há quem fale que se trata de uma versão soft e de época do péssimo e erótico 365, também do Netflix. Porém, se existe algo que une – do cristão ao ateu – toda a audiência da série, é a beleza do duque.
Interpretado pelo ator inglês Regé-Jean Page, o duque de Hastings, personagem central da trama, possui “dad issues” e fobia a compromissos mas, ainda assim, quebrou a internet com suas aparições na tela. De fato, Page foi agraciado com muitos atributos físicos, mas também exala sensualidade, sem forçar nada.
Se a cena na qual ele degusta um pudim já viralizou em forma de GIF, as tomadas repletas de sexo entre ele e a “patroa” também fizeram a fama da obra. Nada que se assemelhe a 365, mas tudo muito bem dirigido, coreografado e caliente. O moço é guapo, indo e vindo.
No rol das polêmicas envolvendo Bridgerton, constam duas. A primeira se dá pela escalação de atores negros, o que segundo seus críticos, causa imprecisão histórica. Esta prática tem nome. Chama-se color-blind casting e, de acordo com sua definição oficial, trata-se de uma escalação que não considera a raça dos atores, pois o foco principal é o talento do profissional. Essa escolha não é unânime, mas é preciso levar em conta alguns fatores aqui: certos historiadores relatam que a rainha Charlotte da série realmente possuía ascendência africana; trata-se de uma obra ficcional e com liberdade criativa e a produtora da série é ninguém menos que Shonda Rhimes, a mega poderosa criadora de sucessos estrondosos como Grey’s Anatomy, Scandal e How To Get Away With Murder. O que todas estas obras têm em comum além de nos deixar adictos? Personagens negros bem construídos e sucedidos e protagonistas das tramas.
A segunda polêmica acontece no episódio 6, em uma cena que já foi controversa no livro. A duquesa força uma situação sexual com o duque – não posso escrever mais para não dar “spoilers” – , de forma que alguns críticos apontaram a falta de um aviso prévio do Netflix alertando sobre o suposto “abuso”. Na minha opinião, há contexto para o ocorrido, mas ainda assim faltou consentimento. Enfim, uma legenda prévia no episódio preservaria a produção de ser “gongada”.
Dito tudo isso, a série cumpre seu papel e transcende a alcunha de obra de época. Afinal, mesmo narrando a trajetória das famílias nobres da Inglaterra do século 19, cujo objetivo maior era casar as filhas com abastados cidadãos – quase que como um balcão casamenteiro – a série possui frescor na fotografia, figurinos riquíssimos e trilha sonora que traz músicas atuais em arranjos belíssimos de cordas.
Outro ponto alto, no meu entender, é o discurso feminista que certas personagens possuem e que questionam o status quo da mulher na época. Entre eles: por que é preciso se contentar com casamento e filhos e não se pode almejar a entrada em uma universidade?
Enfim, Bridgerton tem suas qualidades, justamente por ser não convencional. Se ainda estiver resistente em ver, um conselho: vá pela beleza do duque, permaneça pelo conjunto da obra.