A pandemia do novo coronavírus, que já vitimou mais de 230 mil brasileiras e brasileiros, escancarou diversas facetas outrora não percebidas ou ignoradas pela sociedade.
Ao passo que mostrou a força e importância do SUS (Sistema Único de Saúde) para o nosso país, também desnudou a enorme dependência que o Brasil tem no complexo industrial da saúde de nações estrangeiras, principalmente dos Estados Unidos e China. Apressou mudanças já previstas no mercado de trabalho, aprofundando a necessidade da presença digital, inclusive para microempreendedores; ao mesmo tempo que destaca, grita, berra, a incompetência do atual governo, principalmente deste Ministério da Saúde, falhando miseravelmente, até mesmo no controle de estoque de medicamentos, respiradores e oxigênio. Demonstrou o triste cenário da pirâmide social nacional, onde tantos compatriotas dependeram exclusivamente do auxílio emergencial para sobreviver, não tendo outra alternativa de renda durante as medidas (tão pouco efetivas e respeitadas) de isolamento social.
Todavia, no plano macroeconômico global, ainda que imperceptível para o “grosso” da população, a oferta das vacinas desvelou a pedante posição geopolítica do Brasil, bem como seu posto na hierarquia de prioridades entre as nações, ainda que ocupando a posição da nona maior economia do planeta – em um contexto de uma década sem crescimento e de longa gama de crises (institucional, política, econômica e social). Digo isso pois recentemente foi veiculado que os países mais ricos, os quais concentram apenas 16% da população mundial, resguardam para si (até o momento) cerca de 60% das vacinas disponíveis no planeta.
Visto que esta é uma crise de impacto global, a fantasia da solidariedade entre as nações fica em segundo plano diante da escassez de insumos e doses. Ou seja, mais do que nunca a distância do centro capitalista aumenta em relação à sua periferia. O leitor deve estar se perguntando se isto não é normal diante do sistema capitalista. De fato, é. E obriga as nações periféricas a apostarem no seu desenvolvimento, no refino de suas indústrias. Quem não os faz, destina seu país a um ciclo vicioso de dependência que, nestes momentos de crise planetária, podem sufocar o próprio futuro da nação.
O Brasil enquadra-se neste contexto. Portanto, é hora de rechaçar completamente a ideia vã de que existirá desenvolvimento aqui às custas dos estrangeiros. Precisamos, mais do que urgentemente, de um projeto nacional que extermine este tão profundo grau de dependência internacional.
Ainda, a situação brasileira se agrava e me leva à revolta com o atual governo federal, pois três das nações com maior protagonismo imunizante são a China, a Índia e a Rússia. Curiosamente, todas são membros do bloco conhecido como BRICS, que para além dos três países, engloba Brasil e África do Sul. A título de curiosidade, somando-se os cinco países, constatamos que nele encontram-se cerca de 40% da população terrestre. Dito isto, devemos condenar veementemente a desastrosa política externa do governo Bolsonaro, capitaneada por um sujeito que teve como primeiro posto de sua vida na carreira diplomática justamente a chancelaria da República. Ernesto Araújo, capacho de seu chefe, pratica uma política externa que fere as tradições brasileiras de independência, vindas desde o governo Jânio Quadros, no contexto da Guerra Fria, e sujeita o importantíssimo Itamaraty à uma vergonhosa subserviência imperialista, aliando-se automaticamente aos interesses do ex-presidente estadunidense, Donald Trump. Pelo alinhamento imediato promove-se também o desalinhamento automático dos rivais da América do Norte, como China e Rússia, nossos parceiros no BRICS.
Como não lembrar do próprio chefe do Executivo brasileiro referindo-se ao coronavírus como o vírus chinês? Como esquecer da estagnação federal nas negociações pela Coronavac, tendo o próprio Jair Bolsonaro dito que sua procedência era “duvidosa”? Em nome de que toda esta presepada institucional? Bolsonaro deve lembrar que não é o dono de um botequim e sim o presidente da República. Suas falas possuem caráter institucional. Quando fala asneira, não é ele que sofre as consequências sozinho (bom se fosse), mas sim, todo o povo brasileiro. Mister recordar que o governo federal recebeu três ofícios do Instituto Butantan oferecendo 60 milhões de doses da CoronaVac. Nenhum foi respondido pelo Ministério da Saúde. O presidente ainda disse publicamente que não iria comprar nenhuma dose da “vachina do Doria”. Agora, a demanda mundial cresceu e o governo perdeu totalmente o ‘timing’ da negociação, deixando o Brasil com escassez de doses, mesmo tendo uma vacina nacional com eficácia devidamente comprovada.
Diante dos fatos, ainda que no limite pareça exagero chamar o presidente de genocida, a realidade mostra que (mesmo que de forma ‘não intencional’, aqui validado pelo benefício da dúvida) seus posicionamentos contraditórios com a necessidade de seu povo dão vazão a uma necropolítica. E a cada dia que passa mais brasileiros morrem pela falta de organização no combate à disseminação do vírus, em uma média de mais de mil óbitos diários nos últimos 20 dias.
Portanto, resta imperioso que o Brasil adote uma postura racional, séria e independente na gestão da crise sanitária para evitar maior morbidade em solo pátrio. Infelizmente, este cenário soa inatingível diante da administração Bolsonaro. Logo, por ter cometido – aos montes – crimes de responsabilidade, o povo brasileiro deve clamar e se fazer ouvir pelo impeachment do presidente da República. Sabe-se que a promessa de “não fazer o toma lá dá cá” foi apenas promessa e Jair ‘conquistou’ o apoio do centrão, ala dominante do congresso. Com isso, a lógica é que o impedimento não passe no parlamento. Contudo, vale lembrar que o centrão não é nada leal, extremamente preocupado com o fisiologismo e tem memória curta. Logo, caso o povo manifeste-se visivelmente, nem mesmo o dinheiro e a “mamata” são capazes de salvar o Messias.
Mobilizar!
#FORABOLSONARO